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4 June 2012

Software Social: O Que É? Qual O Seu Impacto Nas Pessoas E Organizações? – Um Relatório Da Australian Flexible Learning Framework (Parte I)


O software social é qualquer software ou rede on-line que permite aos utilizadores interagir e partilhar conhecimento numa dimensão social, realçando o potencial humano em vez da tecnologia que possibilita a transmissão.

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Crédito da Imagem: Mikael Damkier

O software social está em todo o lado: blogues, mensageiros instantâneos, wikis e ferramentas de edição colaborativa são as expressões mais representativas deste conceito. O papel destas novas tecnologias tornou-se cada vez mais importante no mundo de hoje e continua a moldar a forma como a colaboração acontece na e fora da Internet


Numa entrevista vídeo recente com Teemu Arina, o jovem investigador Finlandês apontou o enorme potencial do software social quando é adoptado no processo de aprendizagem informal e também nas empresas da nova geração.

No seguinte artigo apresentamos-lhe o primeiro excerto de um excelente relatório lançado pelo Australian Flexible Learning Framework, uma instituição que dedicou particular atenção ao fenómeno do software social e o impacto na vida dos indivíduos e organizações de hoje em dia.

Continue a ler:

 

Definir software social e o seu alcance


Existem várias opiniões sobre a definição exacta de software social. Para o propósito desta pesquisa, foi aceite uma definição da Wikipédia de 28 de Setembro de 2006, que define software social, como um software que:

"…permite às pessoas encontrarem-se, ligarem-se ou colaborar através de uma discussão mediada por computador formando comunidades on-line. Em sentido alargado, este termo pode englobar medias antigos, tais como listas de distribuição, mas alguns restringem o seu significado a géneros mais recentes de software como os blogues e wikis."

A revista Time (25 de Dezembro, 2006 / 1 de Janeiro, 2007) dedicou o número da Pessoa do Ano 2006 a "Você" e explicou a forma como o software social dá poder a consumidores individuais. A Time apresenta um mapa que liga as formas através das quais o software social permite aos indivíduos:

Fazê-lo - isto é, conteúdo direccionado ao utilizador

Baptizá-lo - isto é, bookmarking social referido como folksonomy

Trabalhar Nele - isto é, colaboração em massa ou crowdsourcing

Encontrá-lo - isto é, pesquisa do produto on-line a gerar o novo modelo de negócios, Longa Cauda.

O alvo inicial desta pesquisa era inicialmente um pequeno conjunto de tecnologias de software social que ainda não tivessem sido pesquisados e que entretanto tivessem começado a ser utilizadas com sucesso no ambiente de ensino e aprendizagem da Formação Profissional. Nomeadamente, blogues, wikis e software de conferência e bookmarking social.

A pesquisa reconheceu, no entanto, que o panorama do software social está a mudar constantemente. É provável que ferramentas específicas sejam rapidamente melhoradas ou ultrapassadas. Assim, o método foi reconhecer algumas ferramentas de software social que são utilizadas actualmente para a partilha de conhecimento, desenvolvimento de capacidades e/ou ensino e aprendizagem no âmbito da Formação Profissional.

Estes eram os mundos virtuais em 3D (p. ex. Second Life), publicação fotográfica (ex. Flickr), conto de histórias via formato digital e podcasting. Uma visão holística do software social foi também levada a cabo, com as descobertas a serem aplicadas ao uso de todo o software social na generalidade.

Uma área do software social que está a crescer mas que não foi incluída nesta pesquisa específica foi o uso dos espaços sociais tais como o MySpace. Com o rápido crescimento das opções de software social, a futura observação do software social na Formação Profissional possivelmente iria incluir uma análise a esta área de rápida expansão.

Houve, no entanto algum desacordo relativo à inclusão de ferramentas de conferência virtual sob a alçada do software social. Dowes considerou que o desenvolvimento de comunidade através das ligações assimétricas dos utilizadores, isto é, a escolha de quem se liga a quem, deve estar "nas mãos do utilizador", é um elemento fundamental do software social. Ele questionou se isso aconteceria com software de conferência virtual.

A necessidade de limites à categorização do que é Software Social (ou Redes Sociais) é discutido por Boyd (2006). Um ponto importante citado por Boyd é que os limites são necessários para evitar que todas as novas tecnologias sejam classificadas como "software social" só porque estão na "moda"e também para dar definições claras para futuras pesquisas, discussões e debates.

Como as conferências virtuais são reconhecidas na Austrália, como tendo um papel importante na criação de comunidades e ensino e aprendizagem, manteve-se no âmbito da pesquisa. Os investigadores reconheceram que por isso não deveria ser considerada fora da área do software social.

Embora o principal foco de atenção da pesquisa tenha sido a Formação Profissional, os dados recolhidos vieram de uma maior amostra, incluindo todos os sectores educativos e também empresas dentro e fora da Austrália. Foi considerado que lições estudadas dentro e fora da Formação Profissional, poderão dar dados muito úteis para o estudo da própria Formação Profissional.




Características de indivíduos, grupos e empresas já inseridas no software social


Os indivíduos

As características de quem, na Formação Profissional, já está integrado no uso do software social insere-se nas definições de Roger (1995): no grupo dos inovadores, nos adoptantes iniciais e um pequeno número insere-se na maioria inicial. A categorização de Roger:

  • Inovadores: Os bravos - aqueles que forçam a mudança. Os inovadores são comunicadores muito importantes.

  • Adoptantes iniciais: Pessoas de renome - líderes de opinião, testam novas ideias mas de uma forma cuidadosa.

  • Maioria inicial: Pessoas ponderadas - cuidadosas, mas que aceitam a mudança mais depressa que a maioria.

  • Maioria tardia: Pessoas cépticas - usam as novas ideias ou produtos quando a maioria os usar.

  • Retardatários: Pessoas tradicionais - defensoras da "maneira antiga", são críticos em relação a novas ideias e apenas a aceitarão se a nova ideia se tornar difundida ou até tradição.

A Curva de Adopção da Inovação de Rogers identifica os diferentes níveis de adopção da inovação. (Veja a Figura 1)

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Figura 1: A Curva de Adopção da Inovação de Rogers (1995)

Rogers identificou que as cinco categorias de adopção seguem uma curva de desvio padrão: muito poucos inovadores adoptam a inovação ao início (2.5%); um pouco mais tarde, os adoptantes iniciais perfazem 13.5%; a maioria inicial 34%; a maioria tardia 34% e algum tempo depois os retardatários perfazem 16%.

A Curva de Adopção da Inovação de Rogers é útil para lembrar que tentar convencer rapidamente as massas para uma ideia controversa é inútil. Faz mais sentido começar por convencer inovadores e adoptantes iniciais. A categoria e percentagens podem ser usadas como um esboço inicial para estimar os grupos alvo.

As características das pessoas excepcionais que iniciam 'epidemias', descritas por Gladwell em The Tipping Point (2000), encontram-se reflectidas naqueles que estão já imersos no software social. Gladwell refere-se a estas pessoas como Conectores, Especialistas e Vendedores. Eles são os mensageiros que espalham as mensagens sociais.

  • Conectores: Pessoas com um dom especial em unir o mundo, especialistas em pessoas, conhecem muita gente e são capazes de estabelecer ligações sociais.

  • Especialistas: Especialistas em informação e peritos em resolução de problemas, com apetências sociais e que gostam de partilhar o seu conhecimento.

  • Vendedores: Têm as capacidades de nos persuadir quando ainda não estamos convencidos.

Gladwell aplicou o conhecimento sobre como se espalham as 'epidemias' para criar uma teoria sobre a mudança social "contagiosa". Ele notou que as epidemias têm três características: contágio; o facto que pequenas causas têm grandes efeitos e que as alterações acontecem não gradualmente mas abruptamente.

No que se refere à mudança, a teoria da gestão, mostra que há sempre aqueles que darão o primeiro passo. O que geralmente os motiva é algo intrínseco, a emoção de novos desafios e um desejo de tornar as coisas melhores. Quem exercia a Formação Profissional e que avançou, rumo ao saber como usar estas ferramentas de software, provou ser capaz profissional e com muitos recursos.

McCulloch, uma mentora de e-Learning, formadora e facilitadora, escreveu sobre as razões que entende serem responsáveis para que a segunda vaga (os adoptantes iniciais) esteja preparada para se ligar ao software social:

"Acredito que é a autonomia e livre vontade que captou a atenção da segunda vaga e a sua capacidade de "fazer por si mesmo" será um ponto importante para sustentar a continuidade das sua práticas no e-learning. É a simplicidade e facilidade de uso destas ferramentas de rede social que trouxe mais sucesso, num curto espaço de tempo, durante os projectos realizados em 2006."

Pode ser discutível dizer que a confiança é a principal característica do "bloguer". Exige confiança publicar pensamentos, ideias e debates num ambiente público. Murray, em referência ao uso da funcionalidade de "comentário" na The Knowledge Tree, notou:

"desde que a The Knowledge Tree começou a usar software de blogue, a funcionalidade de comentários foi utilizada menos por australianos do que por leitores internacionais... é uma capacidade inata...s e queremos comunicar, seja através de blogues, temos que comentar... temos que ter a confiança para 'falar' e construir um perfil. Comentar é um bom ponto de partida mesmo que seja só para dizer 'obrigado'."



Os grupos

Com a utilização de software social, a definição de "grupos" tornou-se mais ampla, tornando difuso o sentido de grupos, redes e comunidades. O factor relevante no uso de software social é a sua natureza social. É a ligação e formação de redes e/ou comunidades que evoluem que faz com que tantos achem o fenómeno tão interessante.

Este conceito de ligar e conectar a teoria do Conectivismo de Siemens, suportada por Stuckey e Arkell (2006) que dizem que, "O chavão corrente para a gestão de conhecimento é ligar, não recolher". (p 7)

Eles também indicam que "a importância das comunidades de prática e as suas capacidades de criação de conhecimento generativo" foi bem defendida e estabelecida por um número de pessoas, incluindo Wenger, o proponente inicial de comunidades de prática em empresas. Wenger define três características essenciais de uma comunidade de prática:

  1. O Domínio - um interesse partilhado

  2. A Comunidade - Inserção em actividades e debates em conjunto, ajuda mútua e partilha de informação.

  3. O Exercício - Eles desenvolvem um reportório partilhado de recursos: experiências, histórias, ferramentas, formas de abordar problemas recorrentes - em suma, uma actividade partilhada.

White defende três tipos de comunidade que agora operam no domínio da blogosfera do software social: a comunidade que pertence a um só Blogue/Bloguer; a comunidade específica a um tema/tópico; e a comunidade fronteira referente ao local (servidor) aonde o blogue está alojado.

Um elemento fundamental das ligações, do trabalho em rede e da formação de comunidades de prática é a "confiança". Tem que existir confiança nos juízos feitos pelas pessoas com as quais se liga. A confiança é a base de todas as interacções humanas. Boone, sobre Stuckey e Arkell (2006 p 7) indica, "Eu não quero dados em bruto, não quero informação, quero os juízos das pessoas em quem posso confiar".

Purie et al (2006), sobre considerar o valor dos sistemas sociais, disse que:

"Os sistemas sociais também dariam confiança e segurança num mundo onde os alunos estão ligados aos outros digitalmente e o conteúdo de ensino é partilhado entre estudantes e até co-produzido. Conteúdo comunitário, simples e open source tem a vantagem de dar acesso a conteúdo ilimitado de ensino, mas possibilitando o levantar de questões sobre a sua qualidade, valor e confiança."



As organizações

Stuckey and Arkell (2006) oferecem uma estrutura de quatro quadrantes:

"para definir os relevos culturais de actividades de partilha de conhecimento contra uma linha de crescentes representações individuais ou conformação empresarial. "

Eles disseram que o software social suporta o desenvolvimento de uma cultura aberta à partilha de conhecimento dentro de empresas, enquanto que uma cultura de conformidade obrigatoriamente conduziu a gestão de conhecimentos aos dias de hoje. Há uma necessidade da existência de ambas as culturas e de estas serem niveladas, defendem, e " uma gestão de conhecimentos fiável baseia-se na fusão das duas".

Certamente há indícios de indivíduos na Formação Profissional (os inovadores, adoptantes iniciais e mensageiros) que procuram formas de evitar uma cultura de conformidade dentro de empresas, testando novas tecnologias para suportarem a partilha de conhecimento, aprendizagem individual e a aprendizagem dos seus alunos. Por si só, isto cria tensões à medida que entendem que a empresa suprime a criatividade e inovação.

O que disse o estudo:

Suporte empresarial para o uso de software social foi considerado de grande importância para 82% dos participantes no estudo, com 67% desses a pertencerem ao sector da Formação Profissional.

Em relação aos itens concebidos para dar suporte organizacional ao uso de software social, muito poucos inquiridos na Formação Profissional avaliaram o apoio de colegas e da organização como "totalmente de acordo".

Estes tópicos foram:

  • a maioria dos meus colegas na minha empresa inspiram-me a usar estas tecnologias, sinto que faço parte de uma equipa de inovação (11% na Formação Profissional comparado com 37% de todos os inquiridos)

  • a minha empresa encoraja-me activamente desenvolver-me profissionalmente (tanto formal como informalmente) utilizando software social (7% na Formação Profissional comparado com 6% de todos os inquiridos)




Avaliar o impacto das ferramentas de software social e comparação com outras estratégias de construção de conhecimento e desenvolvimento profissional.


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O estudo on-line forneceu os dados primários de análise. A seguinte questão foi concebida para definir métodos actuais de avaliação;

"Se usou software social na sua aprendizagem, ou na de outros colegas, como avalia o seu impacto na sua aprendizagem? Que opinião tem, se aplicável, sobre isto?"

O que disse o estudo:

De um total de 76 inquiridos, 36 comentaram as metodologias de avaliação à sua própria aprendizagem ou à de colegas.

A maioria dos comentários foram relativos à "novidade" da utilização de software social e notaram que a avaliação está ao nível da reflexão crítica informal (individual ou de grupo) sobre a utilidade das diferentes ferramentas (isto é, avaliação de produtos em relação à aprendizagem) frequentemente através de funcionalidades dessas mesmas ferramentas.

Os inquiridos comentaram sobre:

  • a necessidade de estratégias de avaliação mais sofisticadas

  • sendo alvo de avaliação quantitativa através do uso de estatísticas de sítios Web, ou usando ferramentas de software social como a Technorati e outros para determinar o número de visitantes, respostas e referências, a natureza e alcance das conversas geradas por respostas, etc.

  • o uso de ferramentas de software social para partilha de conhecimento de forma colaborativa e de desenvolvimento (por oposição à disseminação de informação operacional e procedimental)




Observações das histórias e outros recursos de pesquisa.


Embora o estudo tenha identificado que pouca avaliação formal acontece, as histórias mostram-nos que usar software social para partilha de conhecimento e desenvolvimento de capacidades foi fundamental na criação de novas formas de trabalho, criação e partilha de conhecimento e apendizagem. Os comentários de Wenmoth abaixo capturam a essência do valor e benefícios que os contadores de histórias percebem.

  • Propriendade - Fundamental para toda a "revolução" é o facto de todos os indivíduos poderem agora ter o 'seu' espaço na Web - deixando de ser apenas consumidores, tornando-se em contribuidores e colaboradores. Sítios Web que permitem a indivíduos manter as suas próprias colecções de fotos, vídeos, música e ligações on-line são exemplos disso.
  • Personalização - a possiilidade de personalizar o interface de muitos desses sítios Web é um bom exemplo da aproximação de personalização. Mas a personalização vai mais longe com isto, e inclui a possibilidade de de facto 'construir' a forma como a informação é representada, de onde vem como é utilizada, etc.

  • Participação - a mudança de simplesmente publicar ou participar é outro ponto de relevo deste software. Até os blogues, sendo uma ferramenta de publicação pessoal, permitem a participação - a um nível através do comentários que se podem inserir, noutro através das comunidades de interesse que podem criar.

  • Agregação - a existência de software que usa o RSS (Really Simple Syndication) mostra como é que a informação de uma fonte pode ser facilmente integrada noutra. Sítios Web que permitem aos indivíduos criar os seus feeds de agregação de notícias pessoais, links de blogues e outros feeds, tais como o NetVibes ou o PageFlakes. Outros sítios tais como o Technorati demonstram como é fácil formar comunidades de interesse através da agregação das entradas em blogues.



Resumo

O uso de software social para partilha de conhecimento e capacidade de desenvolvimento está ainda na sua infância, com pouca avaliação informal a acontecer. Os relatos mostram que as pessoas que usam o software social para partilha de conhecimento e desenvolvimento de capacidades estão a identificar informalmente benefícios e valores significativos.

É a altura ideal para desenvolver e promover estratégias de evolução que suportem uma aproximação mais formal à avaliação. Isto pode incluir um conjunto de instrumentos que podem ser disseminados.




Este artigo é um excerto do relatório originalmente chamado "Networks, Connections and Community: Learning with Social Software”, escrito por Val Evans, em colaboração com Larraine J Larri. Foi reproduzido com a permissão do Australian Flexible Learning Framework.



Sobre os autores

Val Evans é o presidente da Val Evans Consulting e investigador no campo do software social. O relatório foi escrito em colaboração com Larraine J Larri da Renshaw-Hitchen and Associates Pty Ltd.



Sobre o Australian Flexible Learning Framework

A estratégia de e-learning da formação nacional, o Australian Flexible Learning Framework (Framework), financia Redes para permitir aos professores e formadores de toda a Austrália partilhar conhecimento e sobre assuntos de e-learning prementes. O Networks Community Forum é um lugar onde profissionais de educação e formação podem-se reunir para aumentar o seu desenvolvimento profissional em relação à inttegração de tecnologia ne educação e formação. Registe-se aqui. ‘E-Trends’ é o tema do evento on-line de Junho, a ter lugar nos dias 19 e 20 de Junho. Este programa inclui cerca de 14 sessões assíncronas de aulas ao vivo e várias discussões assíncronas.



Créditos das Imagens

Colegas de equipa: Yuri Arcurs

Livia Iacolare - Val Evans -
Reference: Australian Flexible Learning Framework [ leia mais ]
 
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